Não me dou paz sequer um segundo. Medo
imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o
suco, de ser violento com a respiração e virar asma. Até a minha
insegurança é amor. O pente nos meus cabelos é faca enquanto é garfo
para os demais. Sofro incompetência natural para medir a linguagem das
laranjas, acredito desde pequeno que tudo o que cabe na mão me pertence.
Minha lareira não dura uma noite, esqueço da reposição das tachas, do
envolvimento da lenha no jornal, de assoprar o fundo. Brigo com o bom
senso. Ou sinto calor demais ou sinto frio demais. Uma ânsia de ser
feliz maior do que a coordenação dos braços. Um arroubo de abraçar e de
se repartir, de se fazer conhecer, que assusta. Parece agressivo, mas é
exagerado. Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas
como uma tragédia. Nunca o riso ou o choro acontece quando quero.
Cumprimento como se fosse uma despedida. Desço a escada de casa ao
trabalho com resignação, mas subo na volta pulando os degraus. Esse sou
eu: que vai pela esperança da volta.
.Fabrício Carpinejar
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