“Eu usaria meu vestido mais bonito, nós
poderíamos seguir a rima de a Valsinha. Sairíamos rua a fora, numa noite
estrelada, e ao fundo a voz de Chico nos embalaria. Ao pé da letra. Não
poderia ser diferente, afinal, tu és fã fiel de Vinicius, e Chico que
fez parte da minha vida, como da nossa história. Tudo se encaixa,
inclusive nossos dedos. Eu rodaria a noite inteira contigo, conheceria a
constelação, desde que você me abraçasse. Me embriagaria nos teus
beijos, e não me importaria de acordar todos da cidade. Nem que as luzes
se acendessem e janelas fossem escancaradas, porque as portas
principais já haviam sido abertas, os dois corações. Nossos braços
estariam enlaçados e pés também. Seguiríamos o mesmo passo. Que bonito
teus olhos sobre os meus.
Mas o nosso romance não saiu do papel. E a cidade não amanheceu,
ainda é noite, e ninguém compreenderá. Que ilusão a minha. Já não tenho
mais o ritmo, a música repetida, ainda toca no rádio antigo, enquanto
insisto em sonhar acordada. Visões distorcidas e as imagens não são mais
coloridas. A rua vazia é testemunha da fantasia, a dança de par, virou
ímpar. Cinzas. Um leve devaneio, sem compasso. Não consigo acompanhar a
melodia sozinha, venha dançar comigo?Esquece a razão, porque têm Vinicius e Chico, tem eu, vestido e Valsinha, coração. Só falta você.”
— | Luíza Miranda, Valsa no singular nunca é inteira, falta a outra metade. Eu não sei dançar sozinha, nem com outro alguém, a “Valsinha”, não. Não sem você. |
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